A segunda música foi do organista
mineiro Calimério Soares(1944) com pequenos prelúdios folclóricos: "Marcha
Soldado", "Prenda Minha", "Oh,que noite tão bonita",
"Romance da Donzela", "Sambalelê". Foram momentos de muita graça.
Todos por certo se recordando de sua infância com saudosismo nesta obra rara
para órgão,com nossas raízes musicais. Foi a estréia mundial dessa composição.
Chegou-se então a Bach, genio
musical e maior organista de todos os tempos, que agora faz 250 anos de morte com
enormes comemorações em todo o mundo. Ouviu-se o imponente Prelúdio em la
menor-BWV 543, onde desfila uma fórmula de toccata e improvisação em estilo
fantástico mas organizado e coerente, cheio de semicolcheias em descendente
cromática e com solos de pedaleira.
Não poderia haver um concerto
que se falasse e pensasse em Bach sem ouvir ou associar logo sua mais conhecida
música, a Toccata e Fuga em ré menor-BWV565. Da sua juventude, mostra ímpeto.
Feita para Pentecostes (em Atos de Apóstolos, fala de línguas de fogo, ruídos que
vinham do céu, etc.). Inicia com 3 injeções fulgurantes que cortam o céu em clarões,
redemoinhos de vento, pingos de chuva. A fuga traz um sujeito que já se ouviu na
frase inicial da toccata. De igualdade rítmica constante, é bastante livre e no
final coloca um postlúdio - recitativo ,com largos acordes de rara eloqüência.
O Concerto foi finalizado com uma
homenagem aos 500 anos de Brasil, fazendo um passeio pelas regiões do
Brasil onde apareceram várias canções folclóricas. "O Guarani" de
Carlos Gomes; "Aquarela do Brasil" de Ari Barroso e o "Hino
Nacional", tudo em arranjo da organista. A platéia ficou emocionada e
pediu extras.
Seguiram-se, duas fugas, a Fuga
em sol menor, BWV 1001, para violino solo e a Fuga em ré menor, BWV 539, para órgão. Na
verdade, trata-se da mesma obra, escrita primeiro para o violino e transposta, mais tarde,
pelo próprio Bach, para órgão. Para ambos os instrumentos, esta peça constitui-se num
desafio: para o violinista, porque este precisa tocar de uma a quatro vozes independentes
e simultâneas, quando o instrumneto é, por natureza, um instrumento de melodia; para o
organista, porque a peça não foi originalmente concebida para o órgão e, portanto,
apresenta um grau de dificuldade superior às fugas compostas estritamente para aquele
instrumento. No entanto, esta fuga, em ambas as versões, é mais um exemplo da maestria
de Bach. Ao justapor as duas versões no mesmo concerto, foi possível observar as
peculiaridades de cada instrumento no tratamento do mesmo material musical. E ambas as
instrumentistas confessam ter uma pontinha de inveja do outro instrumento ao executar esta
fuga: a violinista gostaria de poder contar com a massa sonora de um órgão e com a
facilidade de tocar vários sons simultâneos; a organista se inspira com a leveza com que
o violino executa certas passagens, leveza essa impraticável num instrumento de
dimensões tão grandes.
A "Aria da quarta
corda" é a versão mundialmente popular da Aria da Suite Orquestral em Ré Maior.
Trata-se de uma transcrição da referida peça para violino e órgão (ou piano) feita
durante o período romântico, quando o virtuosismo, o domínio técnico do instrumentista
era profundamente valorizado. Nesta versão da Aria, o violinista utiliza-se apenas de uma
das cordas do violino (a quarta corda - corda sol) para executar esta melodia envolvente e
de tocante expressão. |