JOHANN SEBASTIAN BACH
E OS CORAIS PARA ÓRGÃO DE TUBOS
BACH e o ÓRGÃO DE TUBOS
Podemos começar dizendo que o Órgão de Tubos foi o instrumento dos pensamentos
musicais mais profundos de Bach. Como compositor barroco, Bach manipulou admiravelmente o
estilo polifônico e encontrou no Órgão de Tubos o instrumento ideal para exercê-lo.
A música organística de Bach não iniciou uma tradição, antes, porém, se
constituiu no coroamento artístico de uma tradição que já vinha de um século, e que
dera nomes como Frescobaldi, Freeberger, Pachelbel e Buxtehude. A inventividade bachniana
obteve do Órgão de Tubos os mais variados efeitos: lirismo, grandiosidade, dramaticidade
e delicadeza.
Bach conhecia tão profudamente os recursos do Órgão de Tubos que se tornou
dificílimo inovar depois dele. Utilizou de tudo: o efeito de notas longamente
sustentadas, passagens rápidas com ramificações, seqüência de poderosos acordos
ligados em fermatas, contraste entre o redemoinho de notas rápidas e a lenta e imponente
marcha de pedal e harmonias, uso de pausas para realçar as passagens de intrincado
contraponte rítmico, construções polifônicas com acentuações as mais variadas, etc.
Das mais de 200 peças de Bach para Órgão de Tubos, 142 são, comprovadamente,
prelúdios corais. As outras são: toccatas, prelúdios, fantasias, passacaglia, fugas.
Quanto aos corais consta que foram compostos na época em que Bach trabalhou em Arnstad
(1703-1707), Mülhausen (1707-1708), Weimar (1708-1717) e Leipzig (1723-1750). Apenas
quando esteve a serviço do Príncipe calvinista de Göthen (1717-1723) é que Bach perdeu
o contacto com o Órgão de Tubos - e assim mesmo, parece, não totalmente.
Os 142 corais de Bach para Órgão de Tubos podem ser assim catalogados:
1. Pequeno Livro de Órgão de Tubos (Orgelbüchlein), composto entre 1713 e 1717; Bach
planejou 163 peças e escreveu, ao cabo, 45.
2. Coleção de Schübler, 6 peças publicadas em 1746.
3. Cathecism Preludes, 21 peças.
4. Coleção de Kirnberger, 24 peças.
5. 18 prelúdios corais escritos nos últimos anos de vida.
6. 28 prelúdios corais avulsos.
OS CORAIS PARA O ÓRGÃO DE TUBOS
O Coral como canta na comunidade foi desenvolvido pela Igreja da Reforma desde Lutero:
a Arte foi utilizada para unificar o povo na mesma Fé. E as composições para Órgão de
Tubos baseadas em melodias de hinos luteranos acabaram ocupando lugar primordial na
produção organística de Bach. Tanto no início (as partitas corais - no começo do
séc. XVII, qualquer peça escrita para instrumentos de teclado), como no fim da vida
(harmonização para Órgão de Tubos do Coral a quatro vozes (Apareço perante Teu
Trono), Bach se ocupou da composição de corais para Órgão de Tubos.
Desde o século XVII que o Órgão de Tubos atuava nas cerimônias religiosas:
(prelúdios, poslúdios, acompanhamentos). Seu valor foi assinalado pelo compositor
Michael Pretorius.
Diferentemente do Catolicismo, que criou um gênero religioso paralitúrgico, no
Luteranismo, o Coral para Órgão de Tubos visava realçar a expressão das próprias
palavras do Coral cantado.
Os prelúdios corais compostos por Bach tiveram muitas vezes função didática: ele os
tocava para ensinar composição. Muito apegado à tradição, Bach harmonizou
principalmente corais da época da Reforma e muito pouco do pouco que se fez depois. Bach
compunha seus corais em bloco: deixava que as idéias e conceitos amadurecessem na cabeça
e depois escrevia as obras de um fôlego só; isso conferia a elas unidade estilística e
justificava o serem arranjadas numa só coleção.
O Orgelbüchlein, escrito quando Bach estava em Weimar, foi o que o mestre deixou de
melhor no gênero. Só nos últimos 12 anos de vida ele voltaria com igual dedicação a
esse tipo de composição. Aliás, o Orgelbüchlein foi a primeira coleção completa que
Bach realizou. Teve fins didáticos e são primorosos documentos artísticos e humanos.
Dentre suas características, assinalamos:
1. Corais de tamanho pequeno e expressividade concentrada;
2. Uniformidade estilística e variedade expressiva;
3. Elaborações diversificadas de um mesmo "cantus firmus": apresentação
inalterada do tema, variação por ornamentação ou construção em forma de canon
(canon: um tema é repetido a intervalos regulares, aparece sempre igual e é acompanhado
por si mesmo; na fuga, o tema é repetido em outro tom e é acompanhado por um
contra-sujeito);
4. Construção baseada numa célula germinativa musical: seu conteúdo expressivo deriva
do caráter da melodia ou de sentido das palavras a que está associada; toda a
composição é estruturada homogeneamente a partir de encadeamentos motivados pela
célula germinativa inicial que lhe dá alento.
Adaptados à liturgia ortodoxa do Luteranismo, os corais de Bach estiveram também
muito impregnados da devoção e sentimentalismo religiosos que marcaram a corrente
Pietista do Protestantismo alemão daquela época |