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BACH - 250
anos com o gênio
Anne Schneider - organista
(Texto de seu programa na Rádio da URFGS
O poder e a força de Bach são tão grandes ainda hoje, decorridos 250
anos de sua morte, que essa data está sendo lembrada praticamente em todo o mundo de modo
reverente e agradecido por quantos o veneram. Em 1998, quando estivemos pela última vez
em Leipzig, a igreja de São Thomas, onde descansa o gênio, já estava quase totalmente
interditada para concertos, cultos, visitas, etc. Os dois grandes órgãos por certo tempo
calariam para que a igreja pudesse ser preparada para grande data e somente o altar, onde
está sua lápide, permaneceu aberta ao público e para cultos, acrescido de um pequeno
órgão (que lá não poderia faltar).
Seus admiradores são de todas as raças, credos e cores, confirmando a
frase de um deles, o nosso Villa-Lobos: "a música de Bach é um fundo folclórico de
todas as nações". Quanto material já foi escrito com base nas letras B-A-C-H !
Mas, quem era Bach? Nascido a 21/março/1685 em uma família de
organistas, regentes, enfim, alemães operários da música, os quais ocuparam por 6
gerações postos musicais. Ele faleceu a 28/ julho/ 1750. Órfão desde os 10 anos, foi
criado por seu irmão mais velho. Trabalhou em vários lugares, sempre na Alemanha, e
casou duas vezes (viúvo de Bárbara, desposou Ana Madalena), tendo ao todo 20 filhos, um
pormenor bastante romântico em seu perfil. Gozou de boa saúde e só sua miopia, agravada
por escrever à luz de velas, lhe debilitou mais sua visão. Mas viveu feliz, com
modéstia e simplicidade, percorrendo seu caminho entre o ideal e o trabalho diário.
Queria embelezar o culto protestante.
Todas as descrições que temos o indicam como homem reto, de bom
caráter e justo. Nas perícias e concursos de órgão era severo e minucioso, chegando a
fazer inimigos com isso. Não falava mal de composições ou perfomance de colegas, mas
admirava quem era grande. Muitas vezes se envolveu em discussões com chefes civis ou
eclesiásticos, mas quem não o faz? Foi dedicado à família e ao trabalho, e afável com
os alunos.
Sua biblioteca continha a Bíblia, livros de canto, 50 volumes de
Teologia e obras de Lutero. Em todo o perfil de Bach desponta o traço da sua grande
religiosidade. Era algo espontâneo. O assunto lhe interessava. O SDG (Soli Deo Gloria)
está em muitas de suas obras, e uma dedicatória honrando a Deus na capa da obra mais
importante para o ensino de órgão - o Orgelbüchlein - que ele modestamente
intitula "Pequeno livro do Órgão". Tinha uma cultura teológica consistente e
formulou teologia em tons, sobretudo nos corais do livro mencionado e cantatas. Ele usou
toda a sua alma de pensador místico com simbologia e numerologia numa inusitada
linguagem, e fez os alunos se depararem, já de início, com todo o tipo de dificuldade no
instrumento, pois pensava que assim era o melhor .
E o Bach executante? Todos gostariam de conhecer sua técnica de
intérprete. Os órgãos que ele tocou desapareceram, como muitos de seus manuscritos.
São raras suas próprias indicações, mas certo é que sua virtuosidade teve admiração
da Alemanha inteira, onde, após o episódio com o francês Marchand, tomou rumos de
herói nacional, o que dividiu com Lutero e mais tarde com um terceiro vulto que foi Kant.
De sua terra ele nem precisou sair e nem cursar universidade para chegar ao reconhecimento
geral. Sabemos que a velocidade de seus pés era tamanha que pareciam ter asas quando
voavam na pedaleira, conservando contudo bastante imobilidade do corpo, mesmo quando
realizando cruzamentos, saltos de mãos e pés, enfim, sem grandes movimentos vivos
corporais. Mas ele não era só técnica, tanto que recomendava aos alunos que tocassem
com expressividade os corais e soubessem o conteúdo das palavras do canto para poderem
melhor se exprimir. Quanto à registração, deu poucas indicações. Aqui e ali o nome de
um registro, sinais de f, p, organo pleno, usando sempre sua grande experiência e bom
gosto.
O gênio ficou esquecido por quase 60 anos. Mais contemporaneamente,
Albert Schweitzer, organista, filósofo, médico e teólogo, detentor de Prêmio Nobel,
foi seu grande estudioso e o chamou de músico poeta. Realmente ele foi tudo isso,
podendo-se ainda citar a frase de Gevaert: "A música de Bach é como o Evangelho; o
público pode conhecê-lo por Mateus, por Marcos, Lucas ou segundo João, todos diferentes
mas sempre Evangelho". Bach foi o 5o. Evangelista.
Obrigada por teres vivido. Nós ainda estamos te sentindo aqui (e que
responsabilidade para nós, luteranos...). |
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