Imigração
Alemã ao Brasil e Rio Grande do Sul - I
por: Egídio Weissheimer, contador e pesquisador
telefone: 3342.89.96 - email: weissheimer@tutopia.com.br
Endereço do Instituto de Genealógico do Rio Grande do Sul - INGERS
1. APRESENTAÇÃO.
O trabalho que vamos
apresentar vai enfocar dois assuntos:
1) a imigração alemã ao Brasil, dando ênfase aos motivos que levaram a tantos alemães
a abandonar a sua pátria em procura de uma vida melhor para si e sua família; e
2) os primórdios da IGREJA EVANGÉLICA (Luterana) no Brasil, em que damos uma pequena
biografia dos primeiros Pastores que aqui chegaram, juntamente com os imigrantes, aqui
fundando as primeiras comunidades evangélicas luteranas de origem alemã.
2. IMIGRAÇÃO ALEMÃ AO BRASIL: POR QUE
VIERAM E DE ONDE VIERAM?
Para entender os motivos que levaram a tantos
alemães a emigrar ao Brasil, a partir do ano de 1824, é necessário regredir um pouco na
nossa história.
No dia 7 de Setembro de 1822, o Príncipe D.
Pedro, às margens do Riacho Ipiranga, em São Paulo, proclamava a Independência do
Brasil.
Em 1808 a Família Real Portuguesa havia fugido
para o Brasil, a bordo de 14 navios ingleses, para escapar da invasão das tropas
napoleônicas. Com a derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo em 18.6.1815, nada mais
impedia o regresso de D. João VI a Portugal, o que efetivamente ocorreu em 24 de Abril de
1821. Com o retorno da família real, entenderam as autoridades portuguesas que o Brasil
deveria retornar à simples condição de colônia, fato que já deixara de ser desde que
fora incorporado ao Reino Unido de Portugal e Algarves. Com isto nem as autoridades
brasileiras nem o Príncipe Regente D. Pedro concordavam, o que determinou a proclamação
da Independência.
Esta proclamação, no entanto, encontrou muitas
oposições no país, pois as autoridades das províncias eram portuguesas e mantinham-se
fiéis à Coroa Portuguesa. As tropas portuguesas tiveram que ser daqui expulsas em 1823.
Novo exército teve que ser formado, para garantir militarmente a independência, pois em
Lisboa grandes aparatos de forças militares estavam sendo preparados para invadir o
Brasil.
Mas não havia soldados suficientemente
preparados no país. Era necessário trazê-los do exterior. Além de soldados também
necessitava o país de colonos que viessem se instalar no sul, onde a questão militar
quanto à soberania sobre a Província Cisplatina havia gerado diversos conflitos com a
Argentina. Por recomendação de D. Leopoldina, arquiduquesa da Áustria e filha do
Imperador Francisco I com quem D. Pedro se casara em 1816, decidiu-se trazer não só
soldados mas também colonos da Alemanha. Lá existiam milhares deles desempregados desde
o fim das guerras napoleônicas.
A difícil missão de angariar colonos e engajar
soldados alemães para os Batalhões de Estrangeiros do Brasil, coube ao Major Johann
Anton von Schaeffer que havia chegado ao Brasil em 1814 e conseguido granjear a amizade de
D. Leopoldina, pelo interesse que ambos tinham nas ciências naturais.
De posse de uma procuração que o nomeava de
"Agente de afazeres políticos do Brasil", Schaeffer encontrou inicialmente
grandes dificuldades em contratar soldados na Alemanha. A exportação de soldados era
terminantemente proibida, desde o Congresso de Viena em 1815, pois as grandes nações
européias (Prússia, Inglaterra, Áustria e Rússia), não permitiriam o surgimento de um
outro "Napoleão" no mundo. E D. Pedro I, com a independência do Brasil foi
considerado um usurpador do poder, um rebelde que traíra o seu país.
Enquanto que em alguns estados alemães havia a
proibição, em outros existia o direito dos cidadãos à emigração. Principalmente nos
estados da atual Renânia, onde, pela proximidade com a França, a destruição tivera
sido maior, e onde mais se fizeram sentir os efeitos do fim do feudalismo. Os camponeses,
que agora podiam abandonar o campo, não encontravam trabalho nas cidades, também já
repletas de artesãos desempregados pela explosão demográfica. A revolução industrial
estava substituindo a mão-de-obra humana pelas máquinas que produziam mais e melhor.
Os minifúndios criados pelo direito
hereditário, aliado às terras exauridas por sua contínua exploração, foram fatores
que determinaram a expulsão dos camponeses que, por não encontrarem ocupação nas
cidades, tinham apenas uma saída: a emigração.
Com a oferta do governo brasileiro de terras de
77 hectares, equivalente a 150 "morgos", além de ferramentas, gado, sementes,
auxílio financeiro durante os dois primeiros anos e isenção de impostos nos primeiros
10 anos, a missão de Schaefer foi grandemente facilitada.
Para não chamar a atenção das autoridades
Schaeffer embarcava soldados disfarçados e imiscuídos entre as famílias de colonos.
Vieram assim, no período de 1824 a 1830 aproximadamente 5.000 (cinco mil) colonos ao Rio
Grande do Sul, em meio a outros tantos soldados que permaneciam no Rio de Janeiro,
engajados nos Batalhões de Estrangeiros.
No Rio de Janeiro os colonos ficavam alojados em
galpões na Praia Grande ( Niterói), onde aguardavam a viagem ao Sul. Enquanto que a
travessia do Atlântico era efetuada em navios de 3 mastros (galeras), as viagens para
Porto Alegre eram efetuadas em bergantins, sumacas e escunas de 2 mastros apenas. A
Capital da Província de São Pedro era atingida após 3 semanas de viagem. Aqui, depois
de recepcionados pelo Presidente da Província Sr. José Feliciano Fernandes Pinheiro,
ficavam alojados na extremidade sul do porto, em prédio do Arsenal de Guerra,
proximidades da atual Usina do Gasômetro. Para o transporte até São Leopoldo, na época
conhecida apenas por "Faxinal do Courita", eram utilizados lanchões toldados,
movidos à vela e a remo. Em carretas os colonos chegavam à Feitoria do Linho-Cânhamo,
estabelecimento fabril destinado à produção de cordoalhas largamente empregadas na
navegação e que havia sido desativada no início de 1824 pelo Governo Imperial pelos
sucessivos déficits e cuja administração ainda estava nas mãos do Inspetor José
Thomaz de Lima. Com o encerramento das atividades da Feitoria, os 321 escravos que nela
trabalhavam foram remetidos à Corte do Rio de Janeiro. As duas léguas de terras,
correspondentes a 180 colônias de 100.000 braças quadradas (cerca de 8.700 hectares),
foram medidas e divididas em lotes. As construções que compreendiam além do prédio
principal do estabelecimento fabril ( do qual até hoje é preservada a sua parte frontal
transformada em Museu do Imigrante), existiam ainda outros 81 e que foram destinados para
obrigar os colonos alemães enquanto esperavam o recebimento do seu lote de terras.
3. A IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA NO
BRASIL. OS PRIMEIROS PASTORES E AS PRIMEIRAS COMUNIDADES QUE DERAM ORIGEM A IGREJA
EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL.
1º ciclo.
O início da IGREJA EVANGÉLICA (Luterana) no Brasil confunde-se com a chegada dos
primeiros imigrantes protestantes ao nosso País. Os primeiros Pastores que chegaram ao
Brasil não encontram nem igrejas nem comunidades organizadas. Estes verdadeiros
peregrinos da fé, aqui encontraram inúmeras dificuldades para pregarem o Evangelho.
1. Pastor Friedrich
Osvald Sauerbronn, 1º Pastor do Brasil.
O primeiro Pastor protestante no Brasil foi Friedrich Osvald Sauerbronn ( nasc. em 1784
falec. em 1864). Em 1818 o Governo havia fundado Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. O
Pastor Sauerborn veio ao Brasil em 1824, a bordo do veleiro "Argus",
acompanhando 300 imigrantes alemães, a maioria do Hessen, todos eles angariados pelo
Major Schaeffer e que lá se radicaram. Veio ao Brasil com a promessa de receber o mesmo
salário dos vigários da igreja católica e que o Governo lhe construiria uma igreja e
uma escola. Portanto, o primeiro Pastor protestante que veio ao Brasil não veio ao Rio
Grande do Sul e sim permaneceu em Nova Friburgo/RJ.
2. Pastor Johann Georg
Ehlers, 1º Pastor do R.G. Sul.
No Sul do Brasil o primeiro Pastor foi Johann Georg Ehlers ( nascido em 22.8.1779, em
Lüdersem / Hanôver e falecido 03.1850 no Rio de Janeiro). Igualmente foi contratado pelo
major Schaeffer, percebendo 400$000 réis de ordenado anual. Atravessou o Atlântico na
Galera "Germânia", terceiro veleiro que trouxe imigrantes ao Brasil. Veio
viúvo, acompanhado de três filhos, pois sua esposa Maria Margerethe Tiedemann havia
falecido antes dele emigrar. Chegou na recém fundada Colônia Alemã de São Leopoldo no
dia 6.11.1824. Celebrou seu primeiro culto no Natal de 1824. Como não havia igreja
realizou o ofício religioso no jardim da casa do Inspetor José Tomaz de Lima. Mas logo
lhe foi concedido um galpão na Feitoria para realizar os cultos dominicais.
No ano seguinte, em 1825, requereu e recebeu um
terreno do Inspetor Lima para lá construir "um salão, onde exerça a prédica e
mais funções de seu ministério" e, além disso, um terreno para um cemitério. A
construção parece ter-se iniciado em seguida, mas as obras sofreram uma interrupção de
longos anos devido a Revolução Farroupilha e foram concluídas apenas em 1846.
Na década da revolução farroupilha o Pastor
Ehlers passou por muitos dissabores. A revolução havia dividido os alemães de São
Leopoldo, uns sob o comando do Dr. Johann Daniel Hillebrand, que apoiavam os legalistas,
outros sob o comando de Hermann von Salisch, que lutavam a favor dos rebeldes. A
povoação estava igualmente dividida. Durante o período revolucionário trocava de
mando: ora na mão dos legalistas, ora na dos rebeldes.
Em 1836, quando São Leopoldo era retomada pelos
legalistas, Ehlers foi acusado por Hillebrand de ser simpatizante do movimento
revolucionário. Foi mandado a Porto Alegre, onde ficou de Junho de 1836 até fins de
1838, sabendo-se, apenas, que durante este período de 30 meses, ficou por 7 meses preso.
Ehlers ficou no cargo até 1845, quando se transferiu para o Rio de Janeiro onde faleceu
em Março de 1850.
3. Pastor Carl
Leopoldo Voges, 2º Pastor do R.G. Sul.
Passados apenas 4 meses da chegada do Pastor Ehlers, chegaria a São Leopoldo o Pastor
Carl Leopold Voges, igualmente contratado por Schaeffer. Pastor Voges nasceu em Friedberg
junto a Hildesheim / Hanôver. Atravessou o Atlântico a bordo da galera dinamarquesa
"Georg Friedrich" que transportava aproximadamente 500 passageiros, entre
colonos e soldados. A viagem para Porto Alegre foi realizada pelo bergantim "Flor de
Porto Alegre" que, em Janeiro de 1825, naufragou nos bancos de areia na altura de
Mostardas. Dois colonos não conseguiram nadar até a praia e faleceram.
Voges chegou em São Leopoldo no dia 11.2.1825,
tornando-se Pastor Adjunto de Ehlers ministrando e realizando os atos religiosos do lado
direito do Rio dos Sinos (Hamburgo Velho, Dois Irmãos, Campo Bom e Ivoti), enquanto
Ehlers ocupava-se na margem esquerda do rio (Feitoria Velha e São Leopoldo). Em meados de
1826 o Governo Imperial fundou uma colônia alemã próximo a Torres. Para lá foram
remetidos de São Leopoldo cerca de 400 colonos. Voges que ainda era solteiro acompanhou
esta caravana que lá chegou em Novembro de 1826.
Os 184 colonos católicos foram assentados em
São Pedro de Alcântara (hoje Colônia São Pedro) e os 237 evangélicos instalaram-se em
Três Forquilhas (hoje Itati). Além de Três Forquilhas Voges mantinha sua atividade
eclesiástica na região de Dois Irmãos, onde, inclusive se casou com Luísa Elisabetha
Diefenthäler em 24.3.1828. Para sua subsistência em Três Forquilhas o Pastor Voges
recebeu 2 colônias de terras, onde construiu sua residência, a igreja, a escola e uma
casa de comércio. Faleceu em Três Forquilhas em 1892, após 65 anos de atividade
eclesiástica.
4. Pastor Friedrich
Christian Klingelhoefer.
Foi o 4º Pastor protestante a chegar ao Brasil e o 3º para o R.G. Sul. Nasceu em
15.9.1784 em Battenberg, na época pertencente ao Ducado-Eleitoral de Hessen-Kassel.
Depois de exercer o Pastorado por 17 anos na Alemanha, foi contratado por Schaeffer para
trabalhar no Brasil, onde chegou em Dezembro de 1825 a bordo da Galera Dinamarquesa
"Creole" que trazia 300 imigrantes ao Brasil. Veio acompanhado da mulher e 4
filhos e com a promessa de Schaeffer de aqui receber uma sesmaria de terras. Esperou no
Rio de Janeiro por mais de 2 meses até que conseguisse os documentos das terras
prometidas. Mas ao chegar em São Leopoldo em 17.4.1826, nada mais recebeu do que os
demais colonos: uma colônia de terras em Campo Bom, entre os lotes dos colonos Johann
Bloos e Johann Vetter. Na nova morada dedicou-se de início à lavoura.
Com a transferência do Pastor Voges para Três
Forquilhas, em outubro de 1826, passou a atender a vida espiritual e religiosa dos
moradores do lado direito do Rio dos Sinos, mais precisamente Campo Bom e arredores. Em
1827 construiu a 1ª Igreja, inicialmente de madeira, mais tarde substituída por outra,
de alvenaria, e que se encontra erigida até os nossos dias. Na igreja aos domingos
celebrava os cultos, e durante a semana funcionava a escola, cujo professor era o próprio
Pastor.
Por ocasião da Revolução Farroupilha o Pastor
Klingelhoefer aderiu ao movimento ao lado dos revoltosos, por achá-la vantajosa aos
protestantes. O projeto de constituição farroupilha previa igualdade e liberdade
religiosa, ao contrário do Governo Imperial que prometia liberdade religiosa aos
evangélicos, mas a constituição determinava que a religião oficial era a
católica-romana. Por isso ficou conhecido como "o Pastor farrapo". O Governo
Imperial ao tomar conhecimento do seu apoio aos farrapos suspendeu o pagamento dos seus
subsídios.
Em fins de 1838, tentando fugir do conflito
revolucionário que ensanguentava a colônia alemã, e dar segurança para sua família,
transferiu-se para Rio Pardo, cidade que era reduto dos rebeldes. Ao atingir a localidade
de Freguesia Nova ( hoje Arroio dos Ratos) envolveu-se em combate com tropas imperiais
sendo morto no campo de batalha e ali mesmo sepultado no dia 6.11.1838. Mais tarde seus
restos mortais foram trazidos a Porto Alegre e sepultados no Cemitério Evangélico.
Com Klingelhoefer encerra-se o ciclo da vanguarda
do protestantismo no Sul do Brasil. Os quatro primeiros Pastores no Brasil: Sauerborn,
Ehlers, Voges e Klingelhoefer, como já vimos, foram todos contratados pelo Major
Schaeffer e seus ordenados pagos pelo Governo Imperial. Os Pastores que vieram após, não
tiveram mais esta característica comum, pois vieram por "motu próprio". Os
três últimos citados ( Ehlers, Voges e Klingelhoefer) foram, como se costuma dizer, os
pioneiros da IGREJA EVANGÉLICA (Luterana) no sul do Brasil.
2º Ciclo
A colonização alemã expandiu-se rapidamente pelo Vale do Sinos. Em menos de 4 anos a
região abrangida atualmente pelos Municípios de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Ivoti,
Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Linha Nova e São José do Hortêncio, havia
sido loteada e as terras distribuídas aos imigrantes alemães. Em cada localidade,
vencendo todas as dificuldades e precariedades da época, com a iniciativa destes poucos
Pastores e dos próprios colonos, surgiram as primeiras escolas, as primeiras igrejas e
com elas as primeiras comunidades.
Nos vinte anos seguintes, os Pastores que
chegaram ao sul, vieram, como já dissemos, por motivação própria e com a iniciativa
dos colonos que embora pobres e humildes, trouxeram para o Brasil o sentido religioso em
seus corações. Entre estes Pastores podemos citar:
- Pastor Augusto Wilhelm
Klenze ( nasc. em 1805 falec. em
1861). Recebeu, em 1845, após a Revolução Farroupilha, a autorização do Conde de
Caxias para exercer as funções de Pastor em São Leopoldo, pois o Pastor Ehlers, já com
idade avançada, foi residir no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1850. Klenze não só
atendia São Leopoldo mas também São José do Hortêncio e Lomba Grande. Foi ele quem
construiu a primeira Igreja de São Leopoldo, inaugurada em 18.1.1846, através de uma
lista de subscrição com mais de 3.000 assinaturas. Faleceu no domingo de Páscoa,
5.4.1861, de derrame cerebral enquanto celebrava o culto.
- Pastor Dr. Otto Heinrich
Theodor Recke. Nasceu em 1806 na
Alemanha e foi o substituto de Pastor Klingelhoefer na comunidade de Campo Bom. Ali
substituiu a antiga igreja de madeira construída em 1827, por uma de alvenaria,
inaugurada em 1851 e ainda hoje existente. Recke foi Pastor de Campo Bom e comunidades
vizinhas de 1848 a 1867 ano em que, depois de 19 anos de Pastorado, mudou-se para Buenos
Aires.
- Pastor Johann Peter
Haesbaert ( nasc. em 1803 falec. em
1890). Chegou em Hamburgo Velho em 1845 enviado por uma entidade religiosa do Estados
Unidos, para onde seus pais, naturais da Alemanha, haviam se mudado quando o Pastor ainda
era jovem. Foi Pastor de Hamburgo Velho, Estância Velha, Dois Irmãos, Picada 48 e Ivoti,
aposentando-se aos 83 anos. Foi o primeiro Pastor do Sínodo Missouri (IELB) no Rio Grande
do Sul. Faleceu em 1890 aos 87 anos de idade após servir por 41 anos as comunidades
anteriormente citadas.
Estes primeiros Pastores não eram suficientes
para atender ao grande número de comunidades que, em muitos casos, estavam separadas por
grandes distâncias. A colonização alemã já havia atingido os vales do Caí e Taquari,
onde inúmeras pequenas comunidades luteranas evangélicas foram criadas, em templos
modestos, onde os colonos se reuniam aos domingos para batizar os filhos e ouvir a palavra
de Deus. Numa época em que o único meio de transporte terrestre era o a tração animal,
os Pastores venceram estas distâncias a cavalo. Eram Pastores itinerantes, que percorriam
as linhas e picadas de tempos em tempos, realizando casamentos e batismos coletivos,
ficando hospedados em casas particulares.
Somente depois de quarenta anos após a chegada
dos primeiros imigrantes é que a situação das comunidades evangélicas começou a
melhorar.
Uma das promessas dos imigrantes era de plena
liberdade religiosa. Mas a Constituição outorgada por D. Pedro I em 1824 determinava que
a religião oficial do Império era a católica-romana. As demais religiões eram
toleradas. Seus cultos deveriam ser praticados em prédios que não possuíssem aparência
externa de igreja, ou seja, não poderiam ter torre nem sino. Aos que não professavam a
religião oficial era vedado o acesso aos cargos públicos. Apenas a igreja oficial
poderia receber auxílio financeiro do Governo. Enquanto os padres católicos eram pagos
pelo Governo, os acatólicos deveriam angariar fundos dentro das suas próprias
comunidades para pagar os seus clérigos. Quanto aos casamentos a situação ainda era
pior. Apenas os celebrados perante sacerdote católico tinham validade. Eram nulos os
casamentos efetuados perante Pastores no exterior ou no País. Toleravam-se os casamentos
mistos, desde que os filhos professassem a religião católica, e assim por diante.
Em 1855 o embaixador da Prússia, Sr. Levenhagen,
dirigiu carta ao Governo explicando a situação dos evangélicos e propondo a
instituição do casamento civil. Foi apresentado um projeto de lei neste sentido, mas
jamais foi sancionado por resistência da igreja católica. Diante de tal intransigência
o Governo da Prússia revogou a licença dada às agências de emigração para alistar
emigrantes ao Brasil. Apenas, então, atendendo a esta pressão da Prússia, D. Pedro II,
em 1863, concedeu aos Pastores evangélicos os mesmos direitos dos padres católicos,
quanto ao registro de nascimentos, casamentos e óbitos, embora mantida a exigência, de
que nos casamentos mistos os filhos deveriam ser educados na religião católica.
Diante dessa nova situação e com o empenho do
Pastor Dr. Hermann Borchard que chegara em São Leopoldo em 1864, foi possível mobilizar
as autoridades eclesiásticas da Alemanha e da Suíça no sentido de remeter Pastores
"para os correligionários evangélicos esquecidos" no Rio Grande do Sul. Não
tardou muito para chegarem ao Rio Grande do Sul nada menos do que 11 novos Pastores:
- Wilhelm Kleingünther, Pastor de 1864 a 1873 em
Porto Alegre;
- Johannes Stanger, Pastor de 1865 a 1874 em Picada
48;
- Hermann Jakob Bergfried, Pastor de 1866 a 1871 em
Santa Cruz;
- Christian Smidt, Pastor de 1866 a 1899 em Ferraz e
Rio Pardinho;
- Johann Friedrich Brutschin, Pastor de 1868 a 1904
em Dois Irmãos;
- Heinrich Wilhelm Hunsche, Pastor de 1868 a 1908 em
Linha Nova;
- Heinrich Eduard Falk, Pastor de 1868 a 1918 em
Agudo, S. Cruz, Ferraz e Feliz;
- Robert Krone, Pastor de 1868 a 1870 em Santa
Maria;
- Dr. Carl Gruel, Pastor de 1870 a 1871 em São
Leopoldo e Picada 48;
- Carl Friedrich Wegel, Pastor de 1870 a 1893 em
São Lourenço do Sul;
- Johann Heinrich Peters, Pastor de 1871 a 1885 no
Forromeco ( atual São Vendelino).
Apenas com a Constituição Republicana de 1891
foram conseguidos todos os direitos dos evangélicos, pois a mesma separava a igreja do
estado, instituía os registros civis e proclamava a plena liberdade religiosa para todos
os credos.
Se hoje homenageamos àqueles imigrantes, na sua
grande maioria simples colonos, que para cá vieram e semearam o progresso econômico e
cultural de que tanto nos orgulhamos, é justo também que honremos àqueles Pastores
pioneiros, que para cá vieram, também deixando para trás a sua pátria, família e
amigos, para aqui semear a fé e cumprir a sua missão de evangelizar.
Referência bibliográfica:
"O Biênio 1824 e 1825 da Imigração e
Colonização Alemã do Rio Grande do Sul", de Carlos H. Hunsche;
"O Ano de 1826 da Imigração e Colonização Alemã do R.G. Sul", de Carlos
Henrique Hunsche;
"Protestantismo no Sul do Brasil", de Carlos Henrique Hunsche;
"Igrejas Evangélicas", de Rev. Rudolf Becker;
"Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul", de Padre Teodor Amstad;
"Die Anfänge unserer Kirche in Rio Grande do Sul", de Dr. Klaus Becker. |