1. RAZÕES POLITICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS QUE DETERMINARAM A VINDA DE SOLDADOS
E COLONOS AO BRASIL.
Para entendermos o processo imigratório de
alemães para o Brasil é necessário analisar as condições sócio-econômicas reinantes
na Alemanha e no Brasil.
Não só a Alemanha mas toda a Europa respirava aliviada com o fim do
flagelo napoleônico. Embora a guerra tivesse terminada em 1815 com a derrota de Napoleão
na batalha de Waterloo, isto no entanto em nada mudou as péssimas condições que a
Alemanha passava tanto nas cidades como no campo.
No campo reinava o minifúndio. Sucessivas divisões hereditárias
haviam tornado as propriedades em frações de terras muito reduzidas. Pela contínua
exploração as terras tornaram-se pouco produtivas. Subsistia ainda a estrutura de
trabalho baseada no regime feudal. Mas de nada revolvia o abandono do campo pelos
camponeses pois estes não encontravam emprego nas cidades. A industria manufatureira
havia criado novas profissões, para as quais os camponeses não tinham habilitação,
pois eram na maioria ex-servos desqualificados.
Nas cidades a situação não era diferente. A Revolução Industrial
iniciada na Inglaterra no século XVIII, provocou profundas alterações na estrutura
sócio-economica. A industrialização trouxe efeitos negativos aos artesãos. Até o
advento da máquina, alfaiates, tecelões, ferreiros, carpinteiros, e outros profissionais
tinham seu trabalho valorizado. No momento em que uma única máquina passou a produzir o
que várias dezenas de pessoas faziam, a competição levou-os à ruína. A máquina
produzia mais e melhor. Passaram assim à condição de simples operários, obrigados a
trabalhar muitas horas por dia por salário aviltante.
A vacinação em massa da população determinada por Napoleão
acelerou o crescimento populacional. Não havia empregos para ocupar tanta gente. O
mercado de trabalho não se ampliava na mesma proporção do crescimento populacional.
Para os agricultores e artesãos restava apenas uma saída: a
emigração.
A carreira militar durante séculos foi uma saída para empregar os
filhos que não encontravam emprego no campo nem na cidade. O serviço militar no entanto
era obrigatório. Sua duração era determinada em função da situação política
reinante. Em períodos de guerra o serviço militar estendia-se até a assinatura da paz.
Isto gerava descontentamento. Para fugir do serviço militar a una saída era a deserção
para reinos ou ducados próximos. Os que cometiam tal transgressão eram expatriados. Para
eles restava também uma única saída: a emigração.
Outro fator de descontentamento foi o que podemos chamar de "a
sanção da igreja". O clero francês até a revolução de 1789 compunha o chamado
"Primeiro Estado". Estava assim acima da própria Nobreza que ocupava o
"Segundo Estado". Os membros do alto clero, que saiam das hostes aristocratas,
possuíam privilégios como receber altas pensões do tesouro, isenção de impostos, etc.
Enquanto isso o sacerdote que ministrava os sacramentos nas aldeias,
que lidava com os pobres e oprimidos, para sobreviver era obrigado a cobrar pelos
serviços prestados. Na Alemanha um casamento não saía por menos de R$ 130,00. Para a
realização das núpcias o pagamento era efetuado antecipadamente. Se o casal não
possuísse tal quantia, ocorria em muitos casos o concubinato o que era extremamente
condenado pela sociedade. Os concubinos discriminados não encontravam emprego. Se
possuíssem algum comércio os fregueses desapareciam. Para estes também restava uma
única saída: a emigração.
Foram estes os fatores que determinaram a emigração de alemães para
o Brasil.
E o que acontecia no Brasil. No dia 7 de Setembro de 1822, às margens
do Riacho Ipiranga em São Paulo, havia proclamado a Independência do País. Em 1808 a
Família Real Portuguesa havia fugido para o Brasil, a bordo de 14 navios ingleses, para
escapar da invasão das tropas napoleônicas. Com a derrota de Napoleão em 18.6.1815, na
Batalha de Waterloo, nada mais impedia o regresso de D. João VI a Portugal o que se deu
em 24.4.1821. Com o retorno da família real, entenderam as autoridades portuguesas que o
Brasil deveria retornar à condição de simples colônia, fato que deixara de ser desde
que fora incorporado ao Reino Unido de Portugal e Algarve. O então príncipe D. Pedro
deveria retornar imediatamente à Portugal para aprimorar a sua educação, pois era o
sucessor natural do sue pai no trono de Portugal.
A proclamação da independência encontrou oposição não só em
Portugal como dentro do nosso próprio País. As autoridades provinciais eram portuguesas
e mantinham-se fieis à Coroa Portuguesa. As tropas portuguesas aqui aquarteladas tiveram
que ser daqui expulsas em 1823. Novo exército teve que ser formado para garantir
militarmente a nossa independência, pois em Lisboa grandes aparatos de forças militares
estavam sendo preparados para invadir o Brasil. Mas não havia soldados suficientemente
preparados no país. Para ocupar as cerca de 4.000 vagas abertas nos Batalhões de
Estrangeiros, apenas 200 soldados rasos haviam se apresentado. Era necessário, portanto,
traze-los do exterior.
Além de soldados necessitava o país também de colonos que viessem a
instalar no Sul, onde a questão militar quanto à soberania sobre a Província Cisplatina
havia gerado diversos conflitos com a Argentina. Por recomendação da Imperatriz D.
Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, filha de Imperador Francisco I, com quem D. Pedro se
casara em 13.5.1817, decidiu-se trazer não só soldados mas também colonos da Alemanha.
Lá havia milhares de soldados desempregados desde o fim das guerras contra a França.
A difícil missão de angariar colonos e contratar soldados alemães
para os Batalhões de Estrangeiros do Brasil, coube ao Major Johann Anton von Schaeffer,
que havia chegado ao Brasil em 1814 e conseguido granjear a amizade de D. Leopoldina, pelo
interesse de ambos nas ciências naturais.
De posse de uma procuração que o nomeava de "Agente de afazeres
políticos do Brasil", Schaeffer encontrou inicialmente grandes dificuldades em
contratar soldados na Alemanha. A exportação de soldados era proibida, desde o Congresso
de Viena em 1815, pois as grandes potências européias ( Prússia, Inglaterra, Áustria e
Rússia) não permitiriam o surgimento de um outro "Napoleão" no mundo, e , D.
Pedro I, com a independência do Brasil foi considerado um usurpador do poder, um rebelde
que traíra o pai.
Enquanto que em alguns Estados alemães havia a proibição, em outros
existia o direito dos cidadãos à emigração, principalmente nos Estados da atual
Renânia onde, pela proximidade com a França, a destruição provocada pela guerra havia
sido maior e onde mais se fizeram sentir os efeitos do fim do feudalismo. Cerca de 50% dos
imigrantes são provenientes desta região, mas precisamente do "Hunsrück"
quadrilátero compreendido entre os Rios Reno, Mosela, Nahe e Saar. Os camponeses que
agora podiam abandonar o campo, não encontravam trabalho nas cidades também já repletas
de artesãos desempregados, pois as indústrias estavam trocando a mão-de-obra humana
pelas máquinas que produziam mais e melhor.
Os minifúndios criados pelo direito hereditário, aliado às terras
exauridas por sua contínua exploração, foram, como já vimos, fatores que determinaram
a expulsão dos camponeses que, por não encontrarem ocupação nas cidades, tinham na
emigração a única saída.
Com a oferta pelo Governo brasileiro de terras ( cerca de 150 Morgen=77
hectares), além de ferramentas, gado, sementes, auxílio financeiro nos 2 primeiros anos
e isenção nos primeiros 10 anos, a missão de Schaeffer foi grandemente facilitada.
Para não chamar a atenção das autoridades Schaeffer embarcava
soldados disfarçados e imiscuídos entre famílias de colonos. Para angariar os
emigrantes Schaeffer havia nomeado diversos subagentes na Alemanha que se encarregavam da
documentação e do transporte dos colonos das suas localidades até o porto de embarque,
que no início foi o de Hamburgo enquanto Schaeffer se ocupava na contratação das
embarcações, veleiros (galeras) de 3 mastros. Da Renânia até Hamburgo viagem, feita em
diligências puxadas à tração animal, demorava cerca de 4 semanas. Em Hamburgo eram os
emigrantes submetidos a quarentena e ao exame da documentação, entre eles o
"certificado de cidadania brasileira", com renuncia expressa da cidadania
alemã, fornecido por Schaeffer. Não queriam as autoridades alemães que emigrantes
arrependidos voltassem para sua terra natal.
O embarque dava-se quando o navio estava pronto, ou seja, devidamente
adequado para o transporte de pessoas. Os veleiros construídos para o transporte de
mercadorias, recebiam beliches instalados na entrecoberta da embarcação para acomodar os
passageiros. O início da viagem significava a despedida definitiva da família e dos
amigos, mas significava também o abandono da uma pátria com instabilidade institucional,
democracia precária, explosão demográfica, recessão econômica, terras exauridas e
improdutivas, e que para os emigrantes significava a fuga do desemprego, da fome, da
insegurança, da falta de perspectivas e do desespero.
2. DIFICULDADES
ENFRENTADAS PELOS IMIGRANTES.
O início da viagem também significava o princípio de uma aventura: a
viagem pelo Atlântico, que dependendo das condições a viagem pelo Atlântico levava de
90 a 120 dias. Os suíços que haviam chegado ao Brasil em 1819, oriundos de Freiburg e
que aqui se instalaram em Nova Friburgo, tiveram uma viagem desastrosa. Por falta de
organização aguardaram por 2 meses o embarque no porto da Holanda. Mal instalados ali
mesmo enterraram 43 emigrantes. Os 2.018 montanheses arrebanhados por campos e aldeias
atravessaram o Atlântico espremidos em 7 barcos. Um dos barcos, o Urânia, em que
embarcaram 437 passageiros, devido a uma epidemia, marcou sua rota marítima com um rastro
de 107 corpos. Mais de 1 cadáver por dia. Um quarto dos passageiros lançados do
tombadilho. No Rio de Janeiro outra mortandade em decorrência de febres tropicais. Ao
todo, de uma Friburgo à outra, a velha na Suíça e a nova no Rio, somaram-se 389 baixas.
Dos 2.018 colonos que saíram chegaram apenas 1.631, índice de mortandade parecido com o
dos navios negreiros!
Com o ingresso de Major Schaeffer no processo imigratório isto não
haveria de acontecer. Homem extremamente diligente organizou com todo o cuidado os
embarques. Em cada uma das 27 expedições que organizou de 1824 a 1829 havia um
"comandante do transporte" ou "chefe da expedição", que zelavam pela
disciplina, pela higiene bordo bem como dos direitos e deveres dos passageiros. A
alimentação não era descurada. Os comandantes convidavam passageiros para os seus
camarotes para comprovar que a alimentação servida aos tripulantes era a mesma que era
servida aos passageiros. Em cada navio havia um médico cirurgião, farmacêutico e
enfermeiros para cuidar da saúde bem como da higiene para evitar a erupção de epidemias
à bordo. Evidentemente que ocorreram mortes nas viagens, mas estas sempre foram
decorrentes de causas diversas, e não devidos à má alimentação ou falta de higiene da
embarcação ou das passageiros.
Embora mais seguras quanto à moléstias as viagens não deixavam de
representar um grande temor para os passageiros. Vamos resumir apenas o que aconteceu com
4 das 27 embarcações que chegaram ao Rio de Janeiro de 1824 a 1829.
O lº veleiro, o Argus saiu de Hamburgo 27.7.1823 e desde o início foi
assolado por fortes tempestades que sopravam para o Oeste. Depois de perder o mastro
central atracou no porto holandês de Texel. Durante as reformas cerca de 26 passageiros
fugiram com medo de prosseguir a viagem. Em 10 de setembro reiniciou a viagem que não foi
mais feliz que a primeira. Nova tempestade os obrigou a arribar na Ilha de Wight, ainda na
Holanda. Depois de 15 dias, inicia a terceira partida mas um forte furacão obriga a
embarcação a atracar no Porto de Biscaia na Espanha e mais tarde nas costas da África,
onde após muitas delongas conseguiu fazer um ancoradouro seguro na Ilha de Tenerife, de
onde partiu no dia 8 de Novembro para chegar no dia 7 de Janeiro de 1824 ao Rio de
Janeiro, trazendo 284 pessoas, sendo 134 colonos e 150 soldados. Entre os passageiros
encontrava-se o pastor Friedrich Oswald Sauerbronn, o primeiro pastor evangélico do
Brasil que se radicou em Nova Friburgo cuja esposa faleceu durante a viagem em virtude de
um parto. No Argus também viajou Karl Niethammer o primeiro boticário da Colônia Alemã
de São Leopoldo.
Outro veleiro que passou por peripécias foi o Germania que trouxe a
4º leva de imigrantes. Capitaneado por Hans Voss e tendo como "comandante do
transporte" o Ten. Ferdinand von Kiesewetter. Partiu em 9.5.1824 de Hamburgo até o
porto de Glückstadt, no Rio Elba, de onde zarpou em 3.6.1824. Chegou ao Rio de Janeiro no
dia 14.9.1824 trazendo 401 passageiros sendo 277 soldados e 124 colonos. A bordo viajaram
o pastor Johann Georg Ehlers, Karl von Ende e Johann Daniel Hillebrand. Ehlers seria, o
primeiro pastor evangélico de São Leopoldo e que iniciou os registros eclesiásticos
ainda à bordo do Germania; Karl von Ende o primeiro médico e Hillebrand também médico
e depois o primeiro administrador da Colônia Alemã de São Leopoldo. A viagem deste
veleiro foi marcada por rebeliões e desordens. O navio além de 124 colonos trazia
também 277 soldados, entre eles um pequeno contingente de ex-prisioneiros saídos das
casas de reclusão de Hamburgo. Ainda atracado em Glückstadt no Elba um recruta tentou
incendiar a embarcação. Durante uma tempestade houve rebelião a bordo. Efetuadas as
investigações por uma Comissão foram responsabilizados 8 passageiros, todos
ex-prisioneiros das prisões de Hamburgo que foram julgados e fuzilados. O Pastor Ehlers e
o médico Hillebrand faziam parte da Comissão.
O veleiro Cäcilia também teve uma viagem sinistra. Depois de passar
por terrível tempestade em que perdeu todos os seus mastros, foi abandonado pelo Capitão
por considerar a embarcação perdida. Ficou vagando ao "Deus dará" pelo Canal
da Mancha até ser encontrado por um barco inglês que o rebocou até o porto de Plymouth
na Inglaterra. Ali os náufragos aguardaram por 2 anos por um novo embarque para a
América, fato proporcionado para interferência da imperatriz austríaca D. Amélia von
Leuchtenberg em viagem ao Brasil. Os passageiros do Cäcilia que deixaram a Alemanha em
1827 chegaram ao Rio de Janeiro no dia 29 de Setembro de 1829, sendo esta data comemorada,
ainda hoje, no "Michelskerb" (Kerb de São Miguel) de Dois Irmãos e São José
do Hortêncio onde a maioria dos passageiros do Cäcilia se estabeleceram.
Não menos tormentosa foi a viagem do brigue holandês
"Ativo". Depois de uma tormentosa travessia do Atlântico ao invés de atracar
no Rio de Janeiro arribou na costa de Pernambuco, onde 122 dos 140 passageiros ( 18
faleceram na viagem) foram abandonados à própria sorte. Fundaram um pequeno núcleo
germânico que batizaram de Santa Amélia. Dedicaram-se à agricultura rudimentar e à
produção de carvão vegetal. Consta que alguns com recursos próprios e viajando até em
carros de boi, chegaram anos depois ao Rio Grande do Sul.
Nenhuma das vicissitudes antes narradas pode ser comparada ao da Galera
Holandesa Company Patie. Zarpou no dia 10.10.1825. Ocorre que desde Dezembro de 1825 o
Brasil entrara em guerra contra a Argentina pela posse da Província Cisplatina ( atual
Uruguai). Ao chegar próximo ao Rio em Janeiro de 1826 o Company Patie foi aprisionado por
corsários à serviço dos castelhanos, sendo levado ao sul com destino à Argentina. Na
entrada do porto de Buenos Ayres a embarcação foi interceptada por navio de guerra
brasileiro e os passageiros instalados na Ilha das Flores situada nem frente a
Montevidéu. Dali dos 281 cerca de 200 fugiram para a Argentina, com o "comandante do
transporte" Karl Heine que dizem ter sido um agente de imigração à serviço de
Rosas. Os 81 restantes voltaram ao Rio de Janeiro onde chegaram em 17 de maio de 1826.
A relação de acidentes com embarcações, no 1º período da
imigração que vai de 1824 a 1830, encerra-se com a naufrágio do Bergantim Flor de Porto
Alegre. Saiu do Rio de Janeiro em fins de 1824 com destino a Porto alegre. No início de
Janeiro de 1825 naufragou na costa gaúcha, encalhado nos bancos de areia em frente a
Mostardas. Dos 61 passageiros 2 morreram afogados. Os demais salvaram-se nadando até a
praia onde foram acolhidos pelos moradores do lugar. Cerca de 15 colonos instalaram-se em
Torres. Os demais náufragos entre eles o pastor Leopold Voges chegaram no dia 11.2.1825
em São Leopoldo.
Nos 27 embarques organizados por Schaeffer no período de 1824 a 1829,
chegaram ao Rio de Janeiro cerca de 5.000 colonos e outros tantos soldados. Estes eram
engajados nos Batalhões dos Estrangeiros. Os colonos ficavam alojados em galpões da
Praia Grande ( Niterói), aguardando viagem ao sul. Enquanto a travessia oceânica era
feita em navios de 3 mastros, os viagens para Porto Alegre eram efetuadas em bergantins,
sumacas e escunas, com 2 mastros apenas, por causa do pouco calado da barra de Rio Grande.
A Capital da Província de São Pedro era atingida em média em 3 semanas de viagem. Aqui
depois de recepcionados pelo Presidente da Província ficavam alojados na extremidade sul
do porto, em prédio do arsenal de guerra, próximo à atual usina do gasômetro. Para o
transporte até São Leopoldo, na época conhecida por "Passo do Courita" ( ali
morava um português natural de Coura) eram utilizados lanchões toldados, movidos à vela
e à remo. Em carretas os colonos chegavam à Feitoria do Linho-Cânhamo onde ficavam
alojados até o recebimento do seu lote de terras.
A Feitoria havia sido fundada em 1783 pelo vice-rei Dom Luiz de
Vasconcellos e Souza e instalada inicialmente no sul do Estado no local então denominado
de "Rincão do Caguçu". Seu objetivo era plantar o linho-cânhamo,
cientificamente conhecida por "canabis sativa" e que hoje e conhecida por
"maconha". Esta planta fornecia excelente fibra para a fabricação de cordas,
cordoalhas e velas largamente empregadas na navegação da época. Devido a sucessivos
déficits, creditados à baixa produtividade das terras, foi a Feitoria em 1788
transferida para as margens do Rio dos Sinos. Os resultados ali obtidos também não foram
satisfatórios. Por isso foi extinta em 31.3.1824. Suas terras, correspondentes a duas
léguas, correspondentes a 180 colônias de 100.000 braças quadradas, foram subdivididas
e distribuídas entre os colonos alemães que ali aportaram, em numero de 39 pessoas no
dia 25 de Julho de 1824. Dos 321 escravos apenas 9 permaneceram na Feitoria à
disposição do administração José Thomás de Lima e que prestaram grande serviço na
construção das casas para o alojamento dos imigrantes que ano a ano vinham em maior
número. Em 1824 chegaram em São Leopoldo 126 imigrantes; em 1825 = 909; em 1826 = 828;
em 1827 = 1.088; em 1828 = 99; em 1829 = 1.689 e em 1830 chegaram 117 totalizando 4.830.
imigrantes.
Os recém chegados à Feitoria de logo se depararam com novos
problemas:
- por falta de demarcação das terras, muitos ficaram instalados nos
prédios antes ocupados pelos escravos, aguardando por meses o assentamento dos lotes;
- a demarcação dos lotes fora feita apenas na parte frontal ficando
os limites laterais por conta dos proprietários, o que gerou muitas brigas e questões
judiciais;
- os subsídios que deveriam ser pagos nos primeiros dois anos eram
suspensos tão logo o agricultor tivesse meios de auto sustentar-se o que ocorria já ao
final do primeiro ano; os imigrantes que chegaram em 1829 e 1830 nada receberam pois as
verbas haviam sido suspensas no orçamento pelo governo imperial;
Todos estes problemas e percalços não foram suficientes para demover
o espírito empreendedor daquela pobre mas trabalhadora gente.
Apenas um ano após a chegada dos primeiros imigrantes, junto ao
"Passo do Courita" artesãos que não possuíam aptidão para o trabalho na
terra haviam formado uma florescente povoação, posteriormente batizada de São Leopoldo.
No primeiro período da imigração que vai de 1824 a 1830 todo os vale
do Rio dos Sinos havia sido ocupado pelos imigrantes. Além de São Leopoldo haviam
fundado Novo Hamburgo (Hamburgerberg), Campo Bom, Dois Irmãos (Baumschneis), Ivoti
(Berghanerschenis, depois Bom Jardim), Estancia Velha, Sapiranga (Leonerhof), além de
São José do Hortêncio (Portugiserschneis). A partir de 1836 haviam também ocupado
terras ao leste de São Leopoldo como Taquara do Mundo Novo, fundada por Tristão Monteiro
e Igrejinha, por eles batizada de "Kleinkirchen";
Em todas estas localidades o comércio, a indústria e os artesãos (
sapateiros, curtidores, seleiros, ferreiros, carpinteiros, tecelões, alfaiates, etc. )
estavam em franco progresso, quando em 1835 estourou a Revolução Farroupilha. Os
imperiais ou legalistas juntaram-se ao Dr. Hillebrand a quem também se juntaram o major
Ferdinand Maximilian Kersting, Tem. Heinrich Wilhelm Mosye e outros; os rebeldes ou
farroupilhas uniram-se ao Major Hans Ferdinand Albrecht Hermann von Salisch nomeado, pelo
governo revolucionário, Diretor da Colônia de São Leopoldo. Durante os 10 anos da
Revolução as atividades da Colônia estiveram paralisadas. O envolvimento da Colonia
Alemã neste triste episódio que dividiu a família riograndense, teve a participação
de centenas de imigrantes, lutando de ambos os lados, semeando a morte e a destruição em
toda região.
3. REGIÕES COLONIZADAS E
PRINCIPAIS CIDADES FUNDADAS PELOS IMIGRANTES ALEMÃES NO RS.
Com a assinatura da Paz do Ponche Verde em 1845 entre Caxias e David
Canabarro, teve prosseguimento o processo imigratório alemão para o Rio Grande do Sul.
Os alemães que daí em diante aqui aportariam, ocupariam os Vales do Caí, Taquari e
Jacui.
No Vale do Caí, as principais cidades de Montenegro e São Sebastião
do Caí, de colonização portuguesa, receberiam um aporte do elemento germânico que
também se estabeleceram em Pareci, Pareci Novo, Harmonia e Bom Princípio (
Winterschneis) e outras localidades. A região do Arroio Forromeco, afluente do Caí, foi
colonizada a partir de 1854 pela "Sociedade Montravel, Silveiro & Cia." que
ali fundou a Colonia de Santa Maria da Soledade onde foram assentados não só colonos
alemães mas também belgas, holandeses, suíços e franceses. Mais acima no Rio Cai
localiza-se Feliz, colonizada pelo Governo Imperial a partir de 1846, eleita pela ONU em
1998 como a "cidade de melhor qualidade de vida do Brasil"; e finalmente, Nova
Petrópolis, fundada em 1858 por Sellin e Bartolomay.
Pelo Vale do Jacui, a principal cidade Cachoeira do Sul, onde
inicialmente se instalaram portugueses, também recebeu forte contingente germânico. As
vizinhas cidades de Agudo e Paraíso do Sul, compreendendo a antiga Colônia de Santo
Angelo fundada pelo Barão von Kahlden, foram ocupadas por Pomeranos vindos de Lubow a
partir de 1857.
No Vale do Taquari, cujas principais cidades Lajeado ( na época
Colônia Conventos fundada por Antônio Fialho em 1853), Teutônia ( fundada em 1858 por
Carl Arnt) e Estrela ( fundada por Vito Barreto em 1846) bem como as cidades em seu
entorno: Canabarro, Forqueta, Forquetinha, Cruzeiro do Sul, Boa Esperança, Marques de
Souza ( na época Neu Berlin fundada em 1868), não nos esquecendo de Santa Cruz, no Vale
do Rio Pardo (colonizada por Bartolomay em 1849) e sua vizinha Monte Alverne colonizada a
partir de 1860, temos a presença marcante não só de novos imigrantes alemães mas
também de colonos emigrados das antigas colônias alemãs do Sinos e do Caí.
Por fim no sul do Estado encontramos São Lourenço do Sul, colônia
fundada por Jakob Rheingantz em 1857 e onde se radicaram diaristas oriundos da
Westphália.
Onde se instalaram deixaram uma senda de progresso como são exemplos
os Vales do Sinos, Caí e Taquari. Não vieram apenas simples colonos, mas também
artífices do couro (sapateiros, seleiros, curtidores), ferreiros, carpinteiros,
marceneiros, alfaiates, tecelões, médicos e professores etc.
É verdade que na sua grande maioria eram pobres.
É verdade que fugiram de uma Pátria com democracia precária, com
explosão demográfica, com recessão econômica, com terras exauridas e improdutivas.
Também é verdade que fugiram do desemprego, da fome, da insegurança
e da falta de perspectivas.
Mas também é verdade que trouxeram consigo a sua enorme capacidade de
trabalho, sua arte, suas tradições, folclore e costumes, sua língua, sua culinária que
souberam preservar até os dias atuais.
Em resumo: semearam o progresso onde há apenas 175 anos atrás existia
apenas mato!
Hoje quando estamos com toda justiça homenageando a chegada dos
primeiros imigrantes alemães, muito temos a agradecer a aquelas humildes, corajosas e
obstinados pessoas que, deixando a sua pátria mãe, vieram aqui construir um futuro
melhor para si e para os seus, contribuindo lado a lado com as demais etnias, no progresso
e desenvolvimento não só do nosso Estado mas também da pátria brasileira que adotaram.
RELAÇÃO DE VELEIROS
TRANSATLÂNTICOS
& DAS FAMÍLIAS >>
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